Volta e meia surge uma ameaça tecnológica que sacode o mundo da tradução e apavora os profissionais com suas promessas mirabolantes. Foi assim com as ferramentas de auxílio à tradução (CAT tools), a tradução automática e, mais recentemente no ramo da tradução audiovisual, com as fansubs — ou legendas amadoras produzidas por fãs. Assim como aconteceu quando as ameaças anteriores surgiram, muita gente acha que as fansubs vão substituir o tradutor de legendas profissional. Afinal, por que um cliente vai querer pagar por um serviço que ele pode obter de graça?
Bom, para início de conversa, as legendas feitas por fãs são ilegais. Isso porque o material audiovisual que serve de base para a tradução é protegido por direitos que não são respeitados por quem baixa os programas da internet para legendar. E as legendas amadoras só têm sentido quando acompanhadas pelos respectivos arquivos de vídeo. Ou seja, as fansubs promovem a pirataria. Quem quiser pesquisar mais a fundo pode começar lendo este artigo (em inglês) e o próprio verbete da Wikipedia sobre o assunto.
Além disso, os fansubbers — ou “legenders”, como costumam se autodenominar os legendadores amadores brasileiros — não gostam nada quando encontram suas legendas, feitas, segundo eles próprios, por amor às series e para difundir a cultura audiovisual, exibidas em canais de TV ou em serviços de streaming, como alegam já ter acontecido.
Em segundo lugar, a qualidade das legendas amadoras deixa muito a desejar. Afinal, a pressa nunca foi amiga da qualidade. Para disponibilizarem a tradução o mais rápido possível, os fansubbers dividem um episódio de cerca de 50 minutos entre vários tradutores amadores, o que não ajuda na qualidade final do arquivo. E, além de raramente respeitarem os padrões profissionais da legendagem, como velocidade de leitura e número de linhas por legenda, muitas vezes o português apresentado nas legendas é sofrível, e é fácil notar quando o tradutor tem conhecimentos limitados da língua original e do próprio ofício da tradução. Esse, na verdade, é o problema mais grave. Os fãs podem conhecer profundamente o universo de uma série e ter a habilidade e a disponibilidade para coordenar equipes amadoras e dominar a parte técnica do trabalho de legendagem, mas aprender a traduzir demanda muito mais tempo, estudo e dedicação. Este artigo, também em inglês, mostra alguns erros comumente encontrados nas fansubs.
Outro aspecto que não pode ser ignorado é que o público consumidor e os formadores de opinião estão de olho na qualidade gramatical e tradutória das legendas. O jornal O Globo, por exemplo, tem uma coluna dedicada à televisão que volta e meia atribui notas zero ou dez para as legendas. E até mesmo a Netflix, que foi muito criticada pela péssima qualidade das legendas em português apresentadas quando o serviço passou a ser disponibilizado no Brasil, está tomando providências e é possível notar uma melhora significativa nas legendas.
Na minha opinião, as legendas amadoras trouxeram duas grandes vantagens para o mercado audiovisual. A primeira é que esse movimento dos fãs obrigou os canais de TV a tomarem atitudes para reduzir o intervalo entre a exibição das séries mais populares no país de origem e fora dele. “Game of Thrones”, da HBO, e “The Walking Dead”, exibido aqui pela Fox, são bons exemplos. O público só tem a ganhar com isso. A outra vantagem é que a tradução audiovisual pode ser um caminho profissional para quem começa traduzindo suas séries favoritas de forma amadora (e ilegal). Mas quem quiser mesmo seguir esse caminho deve ter em mente que todo material audiovisual que o profissional de legendagem recebe para traduzir é protegido por contratos de confidencialidade. Ou seja, sua divulgação está absolutamente fora de questão.
E você, costuma assistir a programas legendados por fãs? Qual é a sua opinião em relação às legendas amadoras? Deixe seu comentário!
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